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Sargaço que se come

Exposição produzida no âmbito do projeto “Pasto das Marés”. Usadas há séculos em várias culturas, as algas marinhas são hoje vistas como alimento do futuro: locais, sustentáveis e altamente nutritivas. Mas porque estão ausentes da gastronomia do litoral Norte, onde são tão abundantes? Esta exposição convida a redescobri-las — com criatividade e sabor.
Mar | 13 agosto 2025

Porque é que as algas são consideradas um alimento do futuro se são usadas há centenas de anos por diferentes culturas costeiras do mundo?

Que outras formas de economia alimentar marítima podem ser potenciadas além da pesca e do marisco?

Por que razão este recurso local e acessível está ausente da gastronomia tradicional do litoral Norte do país, onde é tão abundante?

Crescem entre o mar e a terra, são tão familiares quanto estranhas e pertencem, simultaneamente, ao passado e ao futuro. As algas marinhas são um recurso versátil, abundante e sustentável, que tem vindo a ser utilizado pela humanidade desde tempos imemoriais, do Oriente ao Ocidente.

Em Portugal, espalhavam-se nos campos agrícolas para fertilizar os solos pobres e arenosos, das regiões costeiras entre a Póvoa de Varzim e Viana do Castelo. Esta atividade, agora residual, era realizada por sargaceiros e consistia na apanha de uma mistura de algas, a que chamavam ‘sargaço’, que era arrojada à praia pela força das ondas ou colhida diretamente das rochas durante a maré baixa. Noutras partes do globo, principalmente no Japão, China e Coreia, as algas são usadas para nutrir o corpo, em vez da terra. Nestas regiões são alimentos altamente valorizados e considerados verdadeiras iguarias, tanto que no passado estavam apenas reservados à realeza e às classes altas. Mas também há registos do seu uso culinário na Europa Atlântica, África Ocidental e Américas. No nosso país, o único receituário tradicional com algas chega-nos das ilhas dos Açores.

A costa de Viana do Castelo abriga autênticas hortas de algas silvestres comestíveis, que se revelam à medida que a maré recua. Estas algas, muitas vezes vistas como as daninhas do mar, são na realidade superalimentos de grande valor nutritivo e medicinal — são ricas em minerais, vitaminas, proteínas e fibras; têm poucas calorias e hidratos de carbono e um baixo teor de gordura; apresentam propriedades antivirais, antibacterianas e anti-inflamatórias. Para além disso, as algas são um recurso alimentar sustentável: crescem localmente, regeneram-se rapidamente e podem ser cultivadas (sem terra, água doce ou fertilizantes). Um aumento do seu consumo, feito de forma consciente, também melhoraria a saúde do planeta, aliviando a pressão sobre a produção de comida em terra.

Nesta exposição apresentamos oito espécies de algas comestíveis da Praia Norte, destacando o seu potencial gastronómico. Mostramos como podem ser integradas na cozinha quotidiana, através de receitas simples e acessíveis — cruas, desidratadas, cozidas, salteadas, em sopas, saladas, petiscos, pratos principais ou sobremesas. Contudo, uma vez que o nosso sistema digestivo não está acostumado ao consumo regular de algas, como o dos povos orientais, recomendamos usá-las em pequenas doses, pontuando o prato como um condimento/intensificador de sabor, ou usá-las como complemento, misturadas com outros alimentos, permitindo ao organismo adaptar-se progressivamente.

Este é um convite aos Vianenses para redescobrir a sua costa, com respeito, conhecimento e criatividade, e experimentar — sem gourmetizações — este ingrediente versátil, local, saudável e verdadeiramente delicioso (fonte de umami: o quinto sabor).

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Informações sobre itinerância da exposição:

- 24.05 - 09.07.2025 [Praia Norte]

- 10.07 - 31.12.2025 [Parque Ecológico urbano]

- Primavera de 2026 [Jardim Público de Viana do Castelo]

Resumo
Local
Parque Ecológico Urbano